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Categoria: Geral

FIES e Odontologia

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O Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) é um programa do Ministério da Educação destinado à concessão de financiamento a estudantes matriculados em cursos superiores de escolas privadas. Após uma infinidade de detalhes e contas o aluno que preenche os requisitos está apto a receber o financiamento de seu curso por meio do Programa. Deve estar previamente matriculado no curso de graduação em uma escola conveniada ao FIES. A taxa de juros atual é de 6,5% ao ano. O contrato deve ser renovado semestralmente. A instituição de ensino recebe diretamente do FIES e o aluno faz os pagamentos ao banco em que fez o financiamento (Caixa Econômica Federal ou Banco do Brasil).

Tudo explicado e tendo em vista que o financiamento estudantil é uma ferramenta importantíssima na construção das mentes que irão fazer o nosso futuro, analisemos o que se passa, na prática, no caso da Odontologia.

As instituições de ensino superior com cursos de Odontologia se inscreveram no FIES e lançaram no mercado cursos de graduação em que grande parte dos alunos, senão a maioria,  paga o curso com recursos do programa. São turmas gigantescas, com uma relação de professor por aluno insana. Equipamentos odontológicos e instalações não dão conta de tantos usuários e é possível ver situações em que quatro, cinco, seis alunos atendem o mesmo paciente para fazer trabalhos mais complexos. Não bastasse serem enormes, as turmas são oferecidas em três períodos diários (manhã, tarde e noite) e em quatro anos. Não precisa de muita conta para perceber que a carga horária é baixíssima. É de se questionar se o egresso de um esquema de ensino como esse estará apto ao exercício da profissão.

Se acha que está ruim até aqui, veja o acontece adiante.

O curso de Odontologia é caro comparado à maioria dos cursos de graduação. Some-se a isso a necessidade de comprar instrumentos e materiais; o que não é nada pouco em termos de recursos financeiros. Como é de se esperar, com o decorrer do tempo, vários alunos vão abandonando o curso. Ora porque concluíram que não gostam da área, ora porque não conseguem comprar materiais e instrumentos. Mas, o mais esdrúxulo dos motivos é que o Programa FIES ou a instituição de ensino acabam por desqualificar vários alunos para o benefício. De repente, no meio do curso, o aluno é surpreendido com o fim do financiamento. O que já seria péssimo por si só, fica ainda pior. Como deve estar matriculado para receber o financiamento, o que acontece é que o estudante se vê com uma dívida agora com a escola, que lhe cobra as mensalidades atrasadas do semestre e claro toma as medidas cabíveis para receber seus recursos. Nada de ilegal, é claro. Mas, como dizem os advogados por ser legal não deixa de ser escuso.

Veja a situação.

Alunos entram, de cabeça e sem analisar corretamente os riscos, em uma empreitada com alta probabilidade de insucesso. Recebem uma formação ruim. Não conseguem concluir o curso. Se chegam ao fim, encontram uma profissão que demora a recompensar seus praticantes. Têm dívida com o programa FIES. Têm dívida com a instituição de ensino.

Além de arruinar sonhos o programa FIES cria, via de regra, problemas financeiros, com dívidas para os alunos. Joga recursos privados, dos estudantes e suas famílias, no lixo porque simplesmente os estudantes acabam não se formando. Não sendo suficiente, ainda joga recursos públicos no mesmo buraco. Ou eu sou muito inescrupuloso de pensar que a maioria das pessoas que sequer se graduou vai honrar os compromissos financeiros assumidos com o FIES? É um grande desperdício de recursos, tempo, dinheiro e energia quando aplicado em Odontologia.

O Programa FIES (Fundo de Financiamento Estudantil) do governo federal, quando aplicado à Odontologia, é ineficiente, ineficaz, não se mostra como instrumento adequado de financiamento e não se traduz em benefício para a sociedade. Na verdade, vem sendo uma enorme transferência de recursos públicos, obtidos com impostos, para a iniciativa privada, representada na forma de empresas de educação superior, sem a contrapartida que seria a formação de uma geração mais educada a habilitada a construir o nosso futuro.

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Foco na atuação high-tech vale a pena? Parte 2

2015-06-18 035

Meu querido aluno Léo Kurata comentou no post “foco na atuação high-tech vale a pena?” que fazer trabalhos complexos é a motivação para seguir crescendo profissionalmente em Odontologia. Acredito que ele estava expressando sua admiração pela superação de desafios. E vejo a mim mesmo aí nessa atitude. E, sem discutir certo e errado, melhor ou pior, a gente sabe que os bem sucedidos no trabalho primeiro se preocupam em oferecer valor; não é só o dinheiro. Daí talvez a justificativa para encarar o desafio, mesmo que do ponto de vista financeiro nem seja o melhor. 

Então, se capacitar para estar apto a encarar desafios cada vez maiores é sempre bom. Certo? 

Olha, não sei. É certo que eu gostaria de passar em consulta com um profissional perfeccionista, que busca a solução dos casos mais complexos com maestria. Talvez isso explique o sucesso desses profissionais. No entanto, acredito que deva haver algum limite sobre o que devemos aceitar como desafio se quisermos ter uma boa qualidade de vida. O perfeccionista se propõe metas cada vez mais altas e objetivos mais difíceis. Quando consegue atingir suas metas acontece que não sente a satisfação nem a felicidade que esperava. Essa expectativa idealizada se desfaz pois ocorre um desequilíbrio entre o esforço e o desfrute. O esforço passa a ter um peso desproporcional. Começa a ficar pesado trabalhar. 

Então, Léo Kurata, siga com seus desafios mas preste atenção ao ponto em que se deve usar de humildade para dizer com uma dose de assertividade: esse desafio eu não quero. Não porque eu não seja capaz ou não possa me capacitar, mas porque simplesmente não vale a pena. 

Let’s TAD. 

 

Escrevi esse post em parte porque, no dia anterior, eu tive uma lição prática de que há desafios no consultório que ultrapassam o limite, e o “preço” para resolvê-los chega na Lua. 

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Alta Tecnologia e Odontologia

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Já parou para pensar que aquela coroa que você acabou de cimentar pode ter sido confeccionada por um robô? Já pensou que essa mesma prótese pode ter sido “esculpida” em um software? Que aquele laudo foi feito por meio de uma imagem digital e que paciente e radiologista sequer estavam no mesmo local? Sabia que inteligência artificial está sendo usada para descobrir onde está o forame apical, para avaliar a necessidade de exodontia de pré-molares em Ortodontia, ou para diagnóstico diferencial em doenças periodontais? Acredita que já existem robôs para fazer tratamento de DTM com massagem muscular?

Isso já está acontecendo e você pode encontrar várias referências sobre esse assunto na base de dados Medline. E digo mais. Isso é só o começo. A tecnologia usada nem precisa ser perfeita. Basta que simplesmente seja melhor do que o desempenho de um humano. Basta que faça o trabalho de uma forma mais precisa; ou com menos erros; ou mais rápido; ou mais barato; ou, de bônus, às vezes, tudo junto.

Sem dúvida existem profissionais muito talentosos que podem superar os robôs ou computadores. Ainda. Mas não por muito tempo. Agora, diga-se que inteligência artificial e robôs não são bons em empatia, compreensão, apoio, avaliação psico-social, negociação, priorização, paciência, avaliação de oportunidade, noção de custo e beneficio frente às oportunidades e por aí vai. Essas são características humanas que os computadores não vão desenvolver ou que nós não permitiremos que eles desenvolvam. Os seres humanos são o fim, não as maquinas.

Provavelmente a formação profissional será cada vez mais na área de relacionamento profissional-paciente e menos na área técnica. Quem cuida de pacientes já sente bastante os efeitos dessa mudança de paradigma e quem pretende seguir na área da saúde sentirá ainda mais.  Robôs e inteligência artificial são bons e serão melhores em alguns aspectos e seres humanos em outros tantos. Melhor mesmo é unir os dois em prol dos nossos pacientes. 

Let’s TAD.

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