Skip to content →

TAD.Belan Posts

FIES e Odontologia

090715_1942_Odontologia1.jpg

O Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) é um programa do Ministério da Educação destinado à concessão de financiamento a estudantes matriculados em cursos superiores de escolas privadas. Após uma infinidade de detalhes e contas o aluno que preenche os requisitos está apto a receber o financiamento de seu curso por meio do Programa. Deve estar previamente matriculado no curso de graduação em uma escola conveniada ao FIES. A taxa de juros atual é de 6,5% ao ano. O contrato deve ser renovado semestralmente. A instituição de ensino recebe diretamente do FIES e o aluno faz os pagamentos ao banco em que fez o financiamento (Caixa Econômica Federal ou Banco do Brasil).

Tudo explicado e tendo em vista que o financiamento estudantil é uma ferramenta importantíssima na construção das mentes que irão fazer o nosso futuro, analisemos o que se passa, na prática, no caso da Odontologia.

As instituições de ensino superior com cursos de Odontologia se inscreveram no FIES e lançaram no mercado cursos de graduação em que grande parte dos alunos, senão a maioria,  paga o curso com recursos do programa. São turmas gigantescas, com uma relação de professor por aluno insana. Equipamentos odontológicos e instalações não dão conta de tantos usuários e é possível ver situações em que quatro, cinco, seis alunos atendem o mesmo paciente para fazer trabalhos mais complexos. Não bastasse serem enormes, as turmas são oferecidas em três períodos diários (manhã, tarde e noite) e em quatro anos. Não precisa de muita conta para perceber que a carga horária é baixíssima. É de se questionar se o egresso de um esquema de ensino como esse estará apto ao exercício da profissão.

Se acha que está ruim até aqui, veja o acontece adiante.

O curso de Odontologia é caro comparado à maioria dos cursos de graduação. Some-se a isso a necessidade de comprar instrumentos e materiais; o que não é nada pouco em termos de recursos financeiros. Como é de se esperar, com o decorrer do tempo, vários alunos vão abandonando o curso. Ora porque concluíram que não gostam da área, ora porque não conseguem comprar materiais e instrumentos. Mas, o mais esdrúxulo dos motivos é que o Programa FIES ou a instituição de ensino acabam por desqualificar vários alunos para o benefício. De repente, no meio do curso, o aluno é surpreendido com o fim do financiamento. O que já seria péssimo por si só, fica ainda pior. Como deve estar matriculado para receber o financiamento, o que acontece é que o estudante se vê com uma dívida agora com a escola, que lhe cobra as mensalidades atrasadas do semestre e claro toma as medidas cabíveis para receber seus recursos. Nada de ilegal, é claro. Mas, como dizem os advogados por ser legal não deixa de ser escuso.

Veja a situação.

Alunos entram, de cabeça e sem analisar corretamente os riscos, em uma empreitada com alta probabilidade de insucesso. Recebem uma formação ruim. Não conseguem concluir o curso. Se chegam ao fim, encontram uma profissão que demora a recompensar seus praticantes. Têm dívida com o programa FIES. Têm dívida com a instituição de ensino.

Além de arruinar sonhos o programa FIES cria, via de regra, problemas financeiros, com dívidas para os alunos. Joga recursos privados, dos estudantes e suas famílias, no lixo porque simplesmente os estudantes acabam não se formando. Não sendo suficiente, ainda joga recursos públicos no mesmo buraco. Ou eu sou muito inescrupuloso de pensar que a maioria das pessoas que sequer se graduou vai honrar os compromissos financeiros assumidos com o FIES? É um grande desperdício de recursos, tempo, dinheiro e energia quando aplicado em Odontologia.

O Programa FIES (Fundo de Financiamento Estudantil) do governo federal, quando aplicado à Odontologia, é ineficiente, ineficaz, não se mostra como instrumento adequado de financiamento e não se traduz em benefício para a sociedade. Na verdade, vem sendo uma enorme transferência de recursos públicos, obtidos com impostos, para a iniciativa privada, representada na forma de empresas de educação superior, sem a contrapartida que seria a formação de uma geração mais educada a habilitada a construir o nosso futuro.

66 Comments

Foco na atuação high-tech vale a pena? Parte 2

2015-06-18 035

Meu querido aluno Léo Kurata comentou no post “foco na atuação high-tech vale a pena?” que fazer trabalhos complexos é a motivação para seguir crescendo profissionalmente em Odontologia. Acredito que ele estava expressando sua admiração pela superação de desafios. E vejo a mim mesmo aí nessa atitude. E, sem discutir certo e errado, melhor ou pior, a gente sabe que os bem sucedidos no trabalho primeiro se preocupam em oferecer valor; não é só o dinheiro. Daí talvez a justificativa para encarar o desafio, mesmo que do ponto de vista financeiro nem seja o melhor. 

Então, se capacitar para estar apto a encarar desafios cada vez maiores é sempre bom. Certo? 

Olha, não sei. É certo que eu gostaria de passar em consulta com um profissional perfeccionista, que busca a solução dos casos mais complexos com maestria. Talvez isso explique o sucesso desses profissionais. No entanto, acredito que deva haver algum limite sobre o que devemos aceitar como desafio se quisermos ter uma boa qualidade de vida. O perfeccionista se propõe metas cada vez mais altas e objetivos mais difíceis. Quando consegue atingir suas metas acontece que não sente a satisfação nem a felicidade que esperava. Essa expectativa idealizada se desfaz pois ocorre um desequilíbrio entre o esforço e o desfrute. O esforço passa a ter um peso desproporcional. Começa a ficar pesado trabalhar. 

Então, Léo Kurata, siga com seus desafios mas preste atenção ao ponto em que se deve usar de humildade para dizer com uma dose de assertividade: esse desafio eu não quero. Não porque eu não seja capaz ou não possa me capacitar, mas porque simplesmente não vale a pena. 

Let’s TAD. 

 

Escrevi esse post em parte porque, no dia anterior, eu tive uma lição prática de que há desafios no consultório que ultrapassam o limite, e o “preço” para resolvê-los chega na Lua. 

60 Comments

Foco na atuação high-tech vale a pena?

2015-03-05 024

Sonho do dentista jovem, recém formado: fazer uma lente de contato de cerâmica.
Sonho do dentista experiente, para lá dos 20 anos de profissão: fazer diagnóstico precoce e prevenção.
Não fosse pela saúde dos pacientes, disparado o mais importante, vamos ver como fica o bolso.

Lente de contato:
Preço – R$3. 000,00
Gastos variáveis- R$600,00
Laboratório de Prótese, molde e modelo de estudo, enceramento, ensaio restaurador, documentação fotográfica e radiográfica, moldes e modelos de trabalho, cimentação adesiva, necessidade de repetições e por aí vai.
Número de horas de trabalho – 6
Valor apurado antes dos custos fixos e impostos – R$2.400,00
Por hora – R$400,00
*

Consulta de prevenção:
Preço – R$450,00
Gastos variáveis – 0
Número de horas de trabalho – 1
Valor apurado antes dos custos fixos e impostos – R$450,00
Por hora – R$450,00

Sem considerar risco, responsabilidade, desgaste físico e mental, capacitação técnico-científica, grau de expectativa do paciente, falta de diversificação do portfólio de pacientes, baixa pulverização no faturamento  …..

Entendido?

Let’s TAD.

*claro que se estivermos falando de duas, quatro, seis ou dez lentes a conta fica diferente, mas você pegou a mensagem. Certo?!

149 Comments